Data de Publicação: 12 de Janeiro de 2015
Página do Jornal da Cidade que contém o material sobre Lucas
Lucas Aribé: uma história de luta pela acessibilidade
Além de vereador, Aribé é jornalista, educador, músico e cantor
Lara Aguiar
Equipe JC
O vereador pelo município de Aracaju, Lucas Aribé é graduado em Jornalismo, pós-graduado em Comunicação e Novas Tecnologias, técnico em Radialismo, educador, músico e cantor. Aribé, que é uma pessoa com deficiência visual, nunca levou essa questão como uma doença, algo grave, mas sim como detalhe, uma diferença em relação às outras pessoas que não causa impedido em suas atividades diárias. Lucas reconhece que seus pais deram total apoio à sua vontade de ser independente e buscar a inserção na sociedade de forma harmônica. Como vereador, o principal foco é a acessibilidade, mas também atua com destaque nas áreas de mobilidade urbana, direitos do consumidor, educação inclusiva e meio ambiente. Veja mais detalhes na entrevista a seguir.
Revista da Cidade – Antes de se envolver com a política, você já aparecia na mídia pelo talento voltado à música. Como se deu esse processo de aprendizagem de tocar instrumentos e de ter um ouvido apurado para a música?
Lucas Aribé - Quando eu tinha três anos de idade, ganhei de meus pais um piano infantil. O simples brinquedo se tornou, para mim, o primeiro sinal de que eu tinha talento musical, pois comecei a tocar músicas de ouvido. Quando tinha seis anos, iniciei meus estudos no Conservatório de Música de Sergipe, onde aprendi a teoria e prática musical. Também tive aulas particulares e aprendi a tocar diversos instrumentos: piano, teclado, violão, violino, flauta, cavaquinho, sanfona e outros. Aprendi também a tocar sozinho instrumentos de percussão, como bateria, atabaque, pandeiro, zabumba, etc.
RC – Qual o tipo de dificuldade visual você possui e desde quando começou? Como lidou com isso na infância e adolescência?
LA - Desde nascido, convivo com a cegueira total no olho direito e, a partir de 2010, perdi os cerca de cinco por cento de visão que tinha no outro olho. A deficiência visual sempre foi encarada por mim apenas como um detalhe, uma diferença em relação às outras pessoas,
nunca como uma doença, um impedimento. Penso assim desde a infância. Como qualquer criança, brincava de pega-pega, esconde-esconde, carrinhos, bonecos, enfim, fazia tudo normalmente.
RC – Seus pais devem ter sido fundamentais no seu processo de independência física. Quais as maiores dificuldades que acredita ter passado por ter baixa visão?
LA - Sem dúvidas, a participação de meus pais no processo de independência foi fundamental. Com certeza, eles eliminaram muitas dificuldades que eu poderia ter. Por conta da deficiência, as principais dificuldades foram percebidas na locomoção e no acesso à leitura, pois existiam poucos livros em braile em Aracaju. Quando comecei a utilizar o computador, a questão da leitura foi parcialmente resolvida. Sabemos que o preconceito e a discriminação, ainda presentes em pleno século XXI, também representam obstáculos nas relações interpessoais. Convivi e ainda convivo com isso, porém em menor escala, vale ressaltar.
RC – Por que decidiu cursar comunicação? Como foi essa decisão e se é com isso que pretende trabalhar futuramente?
LA - Desde criança, já gostava da comunicação e fazia entrevistas, simulava transmissões de eventos esportivos e políticos. Também gostava muito de ler e escrever. A decisão foi fácil para mim, pois se tratava de algo que já sonhava. Pretendo, sim, continuar minha carreira de comunicador, talvez até abrindo uma empresa de comunicação.
RC – Você tem algum livro publicado ou a ser lançado? Conte-nos sobre isso.
LA - Tenho publicado um capítulo no livro “Educação Inclusiva e Deficiência Visual”. O texto de minha autoria consiste em uma pesquisa sobre a importância de softwares no cotidiano das pessoas com deficiência visual. Esse texto foi inspirado no meu trabalho de conclusão da pós-graduação em Comunicação e Novas Tecnologias.
RC – Como surgiu o gosto pela política?
LA - A partir das eleições de 1994, quando tinha oito anos, participei da campanha para governador, inclusive pedindo voto e enfeitando o carro de meus pais. Poucos anos depois, ainda jovem, participei de passeatas, comícios e manifestações. Antes de ser eleito vereador, fui vice-presidente de Diretório Central de Estudantes e ocupei cargos diretivos na Associação dos Deficientes Visuais de Sergipe-Adevise.
RC – Como vereador, o que tem priorizado em seu mandato? Pode citar os trabalhos mais importantes?
LA - Nosso principal foco é a acessibilidade, mas também atuamos com destaque nas áreas de mobilidade urbana, direitos do consumidor, educação inclusiva e meio ambiente. Podemos destacar a chamada “lei da acessibilidade”, o programa Consumidor Consciente, a “lei dos 15
minutos em lojas de telefonia” e a lei que obriga os restaurantes, bares e lanchonetes oferecerem o serviço de comanda. Estamos aguardando a sanção do prefeito João Alves ao Projeto de Lei 164/2014, que trata da exposição de cardápios em braile ou áudio-descritos nos
estabelecimentos do ramo de alimentação. Também lutamos pela acessibilidade nas calçadas, nos supermercados, no transporte coletivo, etc.
RC - No último ano, você passou a ser integrante da Comissão de Ética da Câmara de Vereadores. Como está sendo essa tarefa?
LA - Para mim, muito satisfatória, pois a ética é uma das marcas de minha trajetória. Apesar de pouco tempo na Comissão, mostrei meu estilo e apresentei parecer sobre o caso que lá se encontra. É dessa forma que costumo trabalhar: com seriedade, respeito a todos, dedicação e ética.