Dia a Dia

Um voto diferente

Data de Publicação: 02 de Janeiro de 2013

No início de 2013, assumo meu primeiro mandato de vereador por Aracaju (SE). Para alcançar a vitória nessas eleições, tive de me dedicar integralmente. Saía às cinco horas e chegava somente depois das 11 da noite. Conversei muito com os eleitores, fiz panfletagem, participei de eventos, carreatas, almoços, reuniões, para poder divulgar meu projeto. Além da campanha na internet e horário político, tive tempo para mostrar todas as propostas políticas e convencer os eleitores de dar ‘esse voto diferente’, como eu dizia.

Minha deficiência visual foi em decorrência da rubéola, adquirida durante o terceiro mês de gravidez de minha mãe. Com dois dias de vida, fui operador de glaucoma. No olho direito, perdi totalmente a visão, no olho esquerdo, fiquei com cerca de dez por cento. Conseguia ver cores e vultos, mas, em 2010, o glaucoma me atacou de novo e perdi o restante da visão.

A deficiência não impediu que eu fosse atrás de meus sonhos. Sou jornalista, radialista, educador, escritor e músico. Domino vários instrumentos. O povo aracajuano me conhece como tecladista, mas toco bateria, violão, flauta e cavaquinho. Estudei no ensino regular e aprendi o braile numa escola especial que havia aqui em Aracaju.

A partir dos 12 anos, comecei a me interessar pelo Jornalismo. Gostava de entrevistar as pessoas e escrever crônicas. Fiz o vestibular para os cursos de Jornalismo e Letras. Entrei nas duas faculdades, mas optei pelo primeiro. Quando terminei o curso, fiz pós-graduação em Comunicação e Novas Tecnologias. Atualmente, sou professor do curso de radicalismo do Senac.

Meu projeto político está todo centrado na acessibilidade. Aqui em Aracaju faltam calçadas adequadas, sinalizações acessíveis, semáforos sonoros. Nós já temos conquistas em lei como, por exemplo, cardápios em braile e acesso a lan houses para deficientes visuais. Mas esses direitos ainda não funcionam na prática. Pretendo também incentivar a produção de livros digitais acessíveis aqui na cidade.

As barreiras atitundas são o principal empecilho para o desenvolvimento de qualquer política de inclusão social. Antes de uma cidade ter calçadas acessíveis, por exemplo, é preciso que as autoridades admitam que isso é importante e necessário.

Há ainda muitos preconceitos a serem derrubados. É comum, por exemplo, ouvirmos: ‘Não vê, mas estuda; não anda, mas é advogado’. Vivemos um momento de transição para um mundo mais inclusivo, que aceite diferenças. É inegável que, a partir desse século, as conquistas sociais do segmento foram surpreendentes. Em minhas andanças, em universidades, em repartições, nas secretarias, nas ruas, tenho constatado que as pessoas estão cada vez mais interessadas em saber o que é acessibilidade e conhecer melhor seus direitos.

O vereador Lucas Aribé tem 26 anos e é associado da Apabb desde 1995, data em que o Núcleo Sergipe foi criado

*Texto publicado originalmente no jornal da Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade – Apabb – na edição out/dez 2012