Data de Publicação: 21 de Março de 2014
Com um plenário lotado, a Câmara Municipal de Aracaju levou o Dia Internacional da Síndrome de Down para o centro das discussões em Sessão Especial realizada nesta sexta-feira, 21. O Requerimento foi de autoria do vereador do PSB, Lucas Aribé, que convidou pessoas ligadas à causa e pessoas com Down.
"Momentos como esses são importantes, pois trazem o tema como foco e ressaltam como o preconceito e a discriminação são prejudiciais a essas pessoas. Espero pelo dia em que essa discussão não seja mais necessária, porém, como ainda temos há discriminação em todas as esferas da sociedade e em todos os setores, estamos unidos para impedir o preconceito com quem quer que seja. Hoje, em especial, levantamos a bandeira das pessoas com Down por se tratar de uma data reconhecida mundialmente. A Câmara é a casa do povo e por isso deve abrigar debates como esse", enfatizou Lucas Aribé antes de iniciar a sessão da qual foi presidente.
Os vereadores Iran Barbosa (PT) e Pastor Roberto Morais (SDD) também estiveram presentes, mas cederam seus lugares em plenário para os mais de 20 jovens e crianças com Síndrome de Down. "Essa é uma luta dessas pessoas que estão aqui na Câmara Municipal de Aracaju, mas também é nossa. É do poder público. Nós, como Poder Legislativo, podemos e devemos fazer mais", disse Iran Barbosa.
Fizeram parte da Mesa: Sheila Christine Santos (Presidente da Associação Sergipana dos Cidadãos com Síndrome de Down - CIDOWN), Max Santos Guimarães (Presidente da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - APAE), Janaína Sedrez Bernades (representante com Síndrome de Down), Ana Galgane Paes (promotora de Justiça, representando o Ministério Público), além do vereador Iran Barbosa que foi secretario da Sessão.
A promotora Ana Galgane foi a primeira a ocupar a Tribuna e citou as ações do Ministério Público Estadual de Sergipe (MPE-SE), na promotoria da Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência. "Sabemos que muito ainda precisa ser feito, mas estamos lutando para garantir o direito da pessoa humana e os direitos fundamentais garantidos na Constituição Federal, visando construir uma sociedade justa e principalmente solidária", destacou. Ana Galgane ainda parabenizou Lucas Aribé pela Sessão e ressaltou a sua filha Alice Paes. "É com muito orgulho que participo desta sessão, agradecendo ao vereador Lucas Aribé e à Câmara por abrir as portas desta Casa neste momento, e com um orgulho ainda maior, falo da minha filha Alice. Ela tem Síndrome de Down e se desenvolve como qualquer criança. Isso é uma grande satisfação para mim", disse emocionada.
Após a fala da promotora, o presidente da Apae, Max Guimarães, ressaltou a importância da data e as dificuldades encontradas. "Mesmo com todas as informações divulgadas sobre a Síndrome, ainda há um preconceito muito grande. Nós, que trabalhamos com essas pessoas, sabemos das necessidades que elas têm. É necessário que haja uma inclusão racional, verdadeira. É preciso dar espaço, assistência social e médica, oportunidades para aqueles que têm Down", afirmou. Max reforçou que o trabalho desenvolvido pela Apae e por outras instituições precisa de apoio para que continue e isso é um dever social. "Para todos da sociedade que se caracterizam como normais, tenho apenas algo a dizer. Ao trabalhar com pessoas com deficiência, temos a certeza que deficientes somos nós, que não conseguimos lidar com as diferenças deles. Precisamos da inclusão e das oportunidades", ressaltou.
Lucas Aribé aproveitou a fala de Max Guimarães para destacar a importância da real inclusão. "Incluir não é fazer dando um jeitinho, é fazer isso de fato. Com direção e seriedade e através de uma política de Estado. Estamos longe disso, mas fazer discussões como essa é um caminho para a conscientização política e social", pontuou.
Sheila Souza, presidente da Cidown, também reforçou em sua fala na Tribuna da CMA a necessidade de autonomia, o respeito pela diferença, o fim do preconceito, a acessibilidade, entre outros pontos. "Trabalhamos na Cidown e temos como intuito mudar o pensamento em relação à pessoa com Síndrome de Down. Queremos que eles tenham autonomia para se desenvolver de forma plena e ter liberdade em sua vida adulta. Esse tipo de conscientização é de extrema importância para essa parcela da população. Um Down pode chegar aonde quiser, basta que sejam dadas as oportunidades", explicou.
A homenagem às pessoas com Síndrome de Down foi finalizada na Tribuna com a presença de Janaína Bernardes, de 34 anos. Ela foi a convidada para falar sobre a realidade de um indivíduo com Down. "É com muito orgulho que estou aqui representando os jovens com Síndrome de Down de Sergipe. Não sou doente. Tenho uma vida normal, faço tudo o que gosto, fico na Internet, já tive namorado e agora estou solteira. Nós somos capazes de fazer o que todo mundo faz", disse.
Em plenário, Solange Souza, explicou a dificuldade encontrada pelos pais e como instituições e poder público podem auxiliar. "Já sofri muito para meu filho Samuel ter assistência e só consegui através da promotora Ana Galgane, que me mostrou que era possível. Agradeço a ela por meu filho estar na escola, ter médico e transporte. Mas, queria lembrar aos políticos e a toda a sociedade que, se para aqueles que se dizem normais, é complicado ter acesso à educação, transporte, saúde, imagine para quem tem algum tipo de deficiência? Precisamos ter os nossos direitos respeitados, afinal, também somos eleitores", pontuou.
Ao final, Lucas Aribé reforçou a importância de ter a sessão na CMA. "É algo único, histórico e grandioso. Esse debate nos deixa missões e enfatizamos que a luta é árdua mas deve continuar. É hora de mostrar o sentido de união, de respeitar as individualidades e olhar para o próximo acreditando no que ele pode fazer. Como sempre digo: tratar diferente o diferente é oportunizar com igualdade. Devemos dar essas oportunidades e ver a evolução de todos", disse.
DIA INTERNACIONAL DA SÍNDROME DE DOWN
A Sessão Especial em celebração ao "Dia Internacional da Síndrome de Down" foi realizada no dia 21 em alusão à data de comemoração que foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2006. O 21/3 foi proposto pela Associação Internacional da Síndrome de Down e faz referência à trissomia no cromossomo 21 (alteração genética que gera um cromossomo extra no DNA do indivíduo.
A denominação da síndrome vem do sobrenome do médico inglês John Langdon Down que, em 1866, fez as primeiras observações detalhadas sobre esse grupo de pessoas na sociedade. O que abriu espaço para estudo e tratamento. A Síndrome de Down não é uma doença. É uma ocorrência genética natural que acontece por motivos desconhecidos, na gestação, durante a divisão das células do embrião. É uma alteração cromossômica, quando crianças nascem dotadas de três cromossomos (trissomia) 21, e não dois, como o habitual. Esta alteração genética afeta o desenvolvimento do indivíduo, determinando algumas características físicas e cognitivas peculiares.