Data de Publicação: 22 de Julho de 2013
Aprender o Sistema Braille pode parecer um bicho de sete cabeças, algo longe do imaginário a grande maioria das pessoas. Entretanto, com dinâmicas interessantes, dedicação e força de vontade fica mais fácil para entender o principal meio de leitura e escrita das pessoas com deficiência visual criado pelo francês Louis Braille no início do século 19. Durante duas semanas, 15 alunos, entre pedagogos, professores e comunidade em geral, participaram da Oficina de Sistema Braille ofertada pelo Instituto Lucas e Mariana Aribé de Acessibilidade para a Inclusão Social de Pessoas com Deficiência em parceria com a Biblioteca Pública Municipal Clodomir Silva, e puderam aprender um universo que até então parecia bem distante.
O facilitador da oficina foi Lucas Aribé, vereador de Aracaju pelo PSB e cidadão envolvido com a inclusão da pessoa com deficiência há muitos anos. Como professor de Braille, ele transmitiu o seu conhecimento para que essa turma já pudesse atender melhor às pessoas com deficiência. "Nessa oficina, procuramos passar o conhecimento que temos. No primeiro módulo, trouxemos o básico, como o alfabeto, números e símbolos em geral. Já no segundo, tratamos os assuntos mais complexos como matemática, química e normas técnicas para a produção de textos em Braille. O que mais me deixou feliz foi perceber o instinto de solidariedade da turma. Para mim, ser o facilitador é algo que não tem nada que pague a oportunidade", disse o vereador.
Para a aluna Gabriela Barbosa, o convívio e os aprendizados foram surpreendentes. "Comecei querendo aprender, mas não sabia que chegaria tão longe. Aprendi a ler e a escrever o Braille e fui além. Aprendi matemática e química, coisa que nunca pensei", afirmou.
Além do Braille
O principal intuito da oficina não foi apenas ensinar o sistema e sim trabalhar a conscientização do grupo em relação às pessoas com deficiência. Os alunos realizaram dinâmicas voltadas para o entendimento ao espaço do outro, com a participação de todos. Criaram um mural onde temáticas foram desenvolvidas durante a semana, os informes escritos em Braille e todos liam. Assistiram a vídeos que retratam a inclusão social e a um curta-metragem com áudio descrição. De olhos vendados, eles acompanharam a uma exibição de cinco minutos. "Foi muito interessante assistir ao filme de olhos vendados. Desse jeito, a gente conseguiu perceber como uma pessoa cega assiste a um filme", explicou a bibliotecária Luciane Amaral, que trabalha no setor Braille da Biblioteca Clodomir Silva e se sente mais preparada para atender o público alvo.
Para a presidente do Iluminar, Ana de Fátima Aribé Alves, o resultado foi positivo. "Nosso trabalho [da ONG Iluminar] não é assistencialista. Queremos que as pessoas com deficiência tenham autonomia para crescer sozinhas e promovendo cursos como esse, ampliamos as possibilidades de todos. Nosso intuito durante essas duas semanas de trabalho foi ensinar o Sistema Braille, porém, o mais importante foi trabalhar a conscientização dessas pessoas. Temos a certeza que essa turma tem uma outra visão do mundo, de respeito e de acessibilidade", destacou a presidente.
Durante o segundo módulo da oficina, os alunos desenvolveram diversos trabalhos que foram apresentados no último dia, após um lanche de confraternização e sorteio de livros em CD e em tinta. As apresentações foram realizadas no Sarau Poético de encerramento. Repentes, músicas, poemas, imagens e textos foram expostos ao público que acompanhou o encerramento. Além disso, o facilitador e vereador Lucas Aribé também foi o responsável pela trilha musical, cantando e tocando sucessos nacionais.
Para a diretora da Biblioteca Clodomir Silva, Fátima Goes, a realização da oficina foi um ganho para todos. "Agradeço a parceria com Lucas Aribé e o Instituto Iluminar. Agradeço também aos alunos que se dedicaram até o final. Tivemos apenas uma desistência, o que é muito bom", disse.
Ao final, Lucas Aribé agradeceu mais uma vez. "Estou feliz com a participação de todos, com as parcerias com a Biblioteca e com a Associação dos Deficientes Visuais de Sergipe - Adevise -, e com o resultado. Agradeço por mim, que ganhei tanto ao trocar experiência com essa turma, e em nome do Iluminar", afirmou. O facilitador foi presenteado com os Estatutos dos Homens, de Thiago de Mello, impresso em Braille.